2006-02-24

Sismo em Moçambique

Anteontem (06/02/22), pelas 00.20 horas (22.20 horas em Portugal), um sismo com a magnitude de 7,4 na Escala de Richter, abalou o centro e o sul de Moçambique. O hipocentro do sismo foi situado a 10 quilómetros de profundidade sob a superfície terrestre, a cerca de 530 quilómetros a norte de Maputo e a 225 quilómetros a sudoeste da Beira.

De acordo com a informação disponível, o abalo sísmico causou duas vítimas mortais e cerca de três dezenas de feridos.

Noticio o sismo porque constituiu para mim uma amarga surpresa. Trinta anos depois de me ter afastado de Moçambique (vivia em Quelimane, na Zambézia, à beira do Rio dos Bons Sinais).

2006-02-22

Para reflexão. E acção.

A edição do Público de 06/02/17 noticia: - Aquecimento global Glaciares da Gronelândia estão a derreter-se mais depressa. No Blog da SabedoriaO que não sei dava uma biblioteca que toda a gente gostaria de ter –, sob o título de Mundo Cão, escreve-se: - No Sudão, um menino bebe água do rio Aquém, perto de Manual Kon, no sul do país. A doença da cólera está a espalhar-se rapidamente nesta zona daquele país e já matou 27 pessoas. E publica-se a fotografia que reproduzimos. Para reflexão. E acção.

2006-02-16

IBSN - Internet Blog Serial Number


Procedemos ao registo do Jornal de Saúde Ambiental no IBSN (Internet Blog Serial Number), criado em 06/02/02, “como respuesta a la negativa de la administración española para otorgar un número de ISSN a las bitácoras de Internet”.

2006-02-14

Sopa com pêlos de barba

Há poucos dias, acedi a um convite e fui jantar a um restaurante conceituado. Isto é, a um estabelecimento de restauração por mais de uma vez mencionado na Imprensa, um espaço onde as ementas são um louvor à cozinha portuguesa tradicional. Não direi que seja um restaurante para gourmets mas é, sem dúvida, um espaço para quem uma refeição é um pouco mais que simplesmente comer. Por outras palavras, em oposição aos estabelecimentos de fast food, é um restaurante de slow food.

Na sala o ambiente é de qualidade, excelente. As mesas não são cobertas com toalhas de papel e os guardanapos são de pano. Branco. E, neste tempo que decorre frio, a temperatura é amena.


Em certo momento, eu apercebo-me da presença do Chefe de Cozinha. Que veio à sala saudar uns clientes decerto do seu relacionamento pessoal. Estava impecavelmente vestido, de acordo com as regras de higiene estabelecidas para os manuseadores de géneros alimentícios (*): avental e barrete. Brancos, sem qualquer mancha. Mas com uma barba farta, algo hirsuta, e um bigode farfalhudo.

Sobretudo por comodidade, para não afirmar por razões de saúde – escanhoar a barba regularmente causa-me lesões na pele -, eu também deixei crescer a barba. E o bigode. Cada vez mais brancos, reflectindo a minha idade. Mas não sou cozinheiro (senão em casa) nem trabalho em restauração (embora os estabelecimentos de restauração e de bebidas sejam uma das minhas áreas de intervenção enquanto TSA).

Para pôr um ponto final neste arrazoado, o que eu quero dizer (escrever) é simples: para se prevenir a queda de cabelos durante a preparação e a confecção dos alimentos, na cozinha dos restaurantes e estabelecimentos similares, exige-se que os trabalhadores usem toucas ou barretes. Que, de acordo com as disposições legais, devem envolver todo o couro cabeludo. Mas a legislação é omissa em relação à barba e ao bigode. Cujos pêlos também são susceptíveis de cair sobre os alimentos tão facilmente como os cabelos.

Parece-me ser oportuno que a legislação seja alterada. Em benefício da higiene e da segurança alimentar e para a protecção da saúde de todos. Sem grande esforço. Bastará adoptar-se uma das normas que vigora (por exemplo) nos estabelecimentos (de fast food) da cadeia Mc Donald’s: aos trabalhadores é interdito o uso de barba e/ou de bigode.
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(*) Portaria Nº. 149/88, de 9 de Março.

Uma carta para o futuro

Domingo (06/02/12), pelo meio da tarde, em minha casa, em Vale de Flores. Pelas janelas de tardoz, abertas, o sol de Inverno invade-me a casa. Sobre o chilrear dos pássaros oiço a canção “Verdes Anos”, de (e pela guitarra de) Carlos Paredes.

Depois de amanhã, terça-feira, celebra-se o “Dia dos Namorados”. Um bom pretexto para o comércio subverter os afectos. Ou talvez não. Apenas um intervalo na indiferença dos dias. Para que ninguém se esqueça que namorar é preciso.

Dos livros por arrumar que se acumulam em cima do sofá, no escritório, recolho “A Rapariga das Laranjas”, de Jostein Gaarder – um escritor norueguês que, em Portugal, a generalidade dos leitores conhece desde a publicação (também pela Editorial Presença) de “O Mundo de Sofia”. Folheio o livro e reparo que na última página garatujei: “ (…) madrugada de 04/05/07”. E lembro-me de que li o livro de um fôlego. A história é exaltante. Confronta-nos com alguns problemas existenciais mas é, sobretudo, uma história de amor. De Amor.

Que vou reler. E cuja leitura recomendo, não só porque todos os dias são dias para namorar, mas também porque, como nos conta o jovem narrador – Georg Roed, “com quinze anos, ou, mais precisamente, quinze anos e três semanas” – “Para compreender a “Rapariga das Laranjas”, eu tinha de ser crescido. Aquela era uma carta para o futuro”.

Reorganização dos Serviços de Saúde Pública

Ontem, 06/02/13, foi divulgado pelos Serviços de Saúde Pública da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, por e-mail e/ou por fax, o documento que a seguir publicamos.

Neste documento, o Coordenador do CRSP e Delegado Regional de Saúde, António Suspiro, depois de esclarecer que “Ficou agora concluído o diagnóstico dos recursos humanos, de médicos de saúde pública e técnicos de saúde ambiental, da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo”, propõe “para reflexão dos colegas os elementos anexos (*) que caracterizam a actual situação com o objectivo de se avançar para a prevista organização dos novos serviços de saúde pública” e anuncia que durante o mês de Fevereiro “dar-se-á início a uma segunda fase de reuniões com os 50 serviços de saúde pública concelhios da região, para aprovação das medidas futuras” no âmbito da Reorganização dos Serviços de Saúde Pública da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.


A todos os Médicos de Saúde Pública e
Técnicos de Saúde Ambiental

Ex.mo Colega

Assunto: Reorganização dos Serviços de Saúde Pública – Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

Ficou agora concluído o diagnóstico dos recursos humanos, de médicos de saúde pública e técnicos de saúde ambiental, da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

A identificação desta situação permite constatar que os recursos humanos efectivos correspondem a um rácio populacional de 33.187 habitantes por médico de saúde pública e 24 890 habitantes por técnico de saúde ambiental.

Todavia verificaram-se assimetrias muito assinaláveis devido, por um lado à base administrativa (concelho) de exercício das funções de saúde pública e por outro à distribuição dos recursos humanos por Centros de Saúde, sem ter existido uma visão global na gestão destes recursos.

São exemplos desta falta de equidade, por exemplo, os casos de cerca de 8.000 habitantes/médico de saúde pública – CS St.º Condestável-Lisboa e CS de Sobral de Monte Agraço, em contraste com os 81.433 habitantes/médico de saúde pública no CS Cacém ou os 62 465 habitantes/médico de saúde pública no CS Benfica.

No que diz respeito aos técnicos de saúde ambiental, observou-se também idêntica disparidade, como por exemplo, os 3.793 habitantes/técnico de saúde ambiental no CS de Constância, face aos 37.568 habitantes/técnico de saúde ambiental no Concelho do Seixal.

Como é do conhecimento geral, discute-se actualmente a organização de um modelo de serviços de saúde pública que respeite uma base demográfica de cerca de 100.000-200.000 habitantes, tendo obviamente em conta a base administrativa do concelho e as características económicas e sociais da comunidade (por exemplo a industria, turismo, bolsas de população migrantes, toxicodependentes, etc.).

Assim, propõe-se para reflexão dos colegas os elementos anexos que caracterizam a actual situação com o objectivo de se avançar para a prevista organização dos novos serviços de saúde pública.

Em simultâneo vão ser propostas à aprovação do CA da RSLVT as diferentes equipas e Grupos Técnicos constituídos nas seis áreas técnico-científicas de Saúde Pública do Centro Regional de Saúde Pública:

- Estudos e Planeamento de Saúde
- Vigilância Epidemiológica e Sistemas de Alerta
- Saúde Ambiental e Ocupacional
- Promoção da Saúde
- Autoridade de Saúde
- Sanidade Internacional

Tendo em conta as futuras “unidades” de Saúde Pública da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo será também proposto para aprovação no CA da RSLVT o plano de mobilidade dos recursos humanos da região de saúde, por mútuo acordo entre os profissionais e o Centro Regional de Saúde Pública de Lisboa e Vale do Tejo.

Durante este mês de Fevereiro dar-se-á início a uma segunda fase de reuniões com os 50 serviços de saúde pública concelhios da região, para aprovação das medidas futuras, nomeadamente no que diz respeito:

- Instalações e equipamentos /meios informáticos;
- Outros recursos humanos – administrativos, enfermeiros, higienistas orais, etc.
- Organização das futuras “unidades” de saúde pública de base demográfica (100.000-200-000 habitantes).

Nesta data, foi distribuída a todos os médicos de saúde pública, por e-mail ou por fax, a lista dos médicos de saúde pública da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, com a identificação de todos os meios de comunicação existentes.

Com os melhores cumprimentos

O Coordenador do CRSP e Delegado Regional de Saúde
Dr. António Suspiro

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Por dificuldades técnicas, provavelmente por inépcia, não incluímos os diferentes anexos. Todavia, podemos enviá-los aos interessados que no-los solicitem por correio electrónico. Para tanto, basta clicar sobre a identidade do Coordenador do JSA, ao fundo da coluna do lado direito.

2006-02-13

teessea's star

Um leitor do JSA, que optou pelo anonimato, de passagem por Hollywood, ao atravessar o Passeio da Fama reparou nesta estrela e enviou-nos a seguinte mensagem:

This is teessea's star on the walk of fame in hollywood:

2006-02-10

Proteger a saúde dos TSA

Na terça-feira (06/02/07), quando cheguei ao Laboratório de Saúde Pública (da Sub-Região de Saúde de Santarém) para, em conjunto com o Miguel – um jovem, motorista do Centro de Saúde onde trabalho –, proceder à entrega das amostras que colhera durante a manhã, encontrei um colega que cumpria a mesma tarefa. Durante alguns minutos (poucos) conversámos sobre coisas banais: a saúde pessoal, a monotonia do quotidiano e a reforma – a aposentação, um tema recorrente para quem já acumula muitos anos de serviço e muitos mais de idade. Tal como eu, aquele colega também tem quase 60 anos idade. Todavia, já cumpriu 35 anos de serviço. “Mas não me deixam ir embora”, observou-me, aparentemente inconformado.

escrevi no JSA que a aposentação não deve ser considerada como um prémio e muito menos como um castigo. É um direito dos trabalhadores. No entanto, por múltiplas razões, é um direito cujo exercício é cada vez mais penoso para a generalidade dos trabalhadores. Sobretudo após a mais recente alteração legislativa.

Constitucionalmente somos todos iguais. Mas, de facto, somos todos diferentes uns dos outros. No domínio da aposentação, sabemos que há classes sociais e socioprofissionais privilegiadas. Entre outras, a classe política a e classe dos administradores de empresas públicas – cuja nomeação obedece a critérios … políticos. Fora destas classes, os cidadãos trabalhadores são abrangidos pela lei geral e devem, para ter direito à aposentação, continuar a exercer a actividade até aos 65 anos de idade. Não é justo. Não é eticamente justo.

Nestas circunstâncias, concretamente em relação aos TSA, uma classe socioprofissional abrangida pela lei geral – condição que obviamente não contesto –, eu entendo que é necessário, à semelhança do que sucede em outras profissões (designadamente na área da saúde) estabelecer condições de trabalho que protejam a sua saúde.

Os TSA executam tarefas que os expõem a múltiplos riscos. Riscos a que ficam mais vulneráveis com o evoluir da idade. Tarefas e riscos que não são objecto de qualquer vigilância no âmbito da saúde ocupacional. Parece caricato, mas, de facto, se têm competências legais para intervir no domínio da Higiene e Segurança no Trabalho na generalidade dos estabelecimentos, não dispõem – no âmbito do SNS (Serviço Nacional de Saúde) – de serviços de SHST que avaliem as condições em que exercer a profissão. Uma infracção óbvia ao que dispõe a
legislação.

Com o objectivo de proteger a saúde dos TSA, sobretudo dos que transpõem a barreira dos 50 anos, e de promover as condições de higiene e segurança em que exercem a actividade profissional, decidi elaborar um documento para apresentar às entidades competentes, não como um caderno reivindicativo mas como projecto normativo.

Agradeço aos TSA que colaborem e me apresentem as suas propostas.
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Ilustração recolhida em: www.oficina.cienciaviva.pt

2006-02-08

Um pontapé na relva


Nas “Notas avulsas sem critério (2)” – “Sábado”, Nº. 92, de 2 a 8 de Fevereiro, 2006 –, Alexandre Pais, identificado como Director de Record (não sei, eu não leio jornais desportivos) escreve no parágrafo (Nota) 5: - “Souto Moura está a projectar a futura casa do futebolista Cristiano Ronaldo. Tem-se atacado tanto o homem e agora fica tudo calado? Acho mal. Até ao fim do mandato, o procurador-geral que continue mas é a procurar e não se ponha para aí a fazer de arquitecto. Há cada um…”.

Embora eu entenda que o futebol é uma excelente modalidade desportiva, cuja prática (com acompanhamento médico) devia ser fomentada em todas as idades, eu não percebo (e não quero perceber) nada do futebol que se vende nos jornais, na rádio e na televisão. Mas sei o suficiente para afirmar que, nesta jogada, ao confundir os irmãos – um, Procurador-Geral da República, e o outro, Arquitecto –, Alexandre Pais deu um grande pontapé na relva…
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Sem subsídio de risco

O Sr. Rui Rio decidiu no final do ano passado suspender o pagamento do subsídio de risco aos trabalhadores da Câmara Municipal que recolhem o lixo durante a noite na cidade do Porto. Parece que a atribuição do subsídio foi considerada irregular, pela Inspecção-Geral da Administração do Território, por não estar regulamentada. Um bom pretexto para, em tempo de contenção financeira, o Sr. Presidente da CMP (Câmara Municipal do Porto) meter a mão no bolso dos cantoneiros e sacar a cada um 115 Euros por mês.

Legitimamente, os trabalhadores prejudicados manifestaram-se contra a arbitrariedade da decisão, reivindicaram a regularização do subsídio desde a data da suspensão e optaram pelo recurso à greve. Uma forma de luta perversa porque debilita os já magros vencimentos dos cantoneiros enquanto engorda, na mesma proporção, o erário autárquico.

Entretanto, durante a greve, o lixo acumulou-se nas ruas da cidade da foz do Douro expondo a população aos riscos associados à insalubridade ambiental. Um problema de Saúde Pública. Que tenderá a agravar-se se não forem adoptadas medidas objectivas, concretas, para o resolver.

A requisição civil dos cantoneiros será uma dessas medidas, de natureza política, no mínimo autocrática. Outra, também de natureza política mas socialmente correcta, consiste na regularização dos salários dos trabalhadores.

Admitimos que o bom senso prevalecerá. Porque se a recolha do lixo é uma tarefa árdua, que expõe os trabalhadores a múltiplos riscos, executá-la durante a noite é muito mais penosa. Como o Sr. Rui Rio e outros autarcas sabem. Decerto que sabem…
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Fotografia recolhida em www.oprimeirodejaneiro.pt

Meio ambiente com humor


"Medio ambiente con humor" é o título de um livro (disponível em on-line), editado pela Fundación Biodiversidad, com cartoons de colaboradores das principais publicações espanholas, cuja consulta recomendamos.

Como escreve no Prólogo Cristina Narbona, Ministra do Ambiente espanhola, “Algunas de las viñetas arrancarán al lector una sonrisa; otras le invitarán a una profunda reflexión, pero estoy segura de que ninguna le dejará indiferente”.

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Ilustração recolhida em :
usuarios.lycos.es/rioyeltes/ n21_30/20020609.htm

2006-02-06

A Internacionalização do Mundo

Há já algum tempo, Luís Aleixo, TSA, enviou-nos um texto atribuído a Cristovam Buarque, Ministro da Educação do Governo de Lula da Silva. Depois de o lermos, decidimos confirmar a autenticidade do documento antes de o publicarmos. Pedimos a colaboração de Karina Miotto, jornalista, autora do Eco-Repórter-Eco – desde há algumas semanas disponível no “Espaço de Outros sítios, mais saberes…” –, que nos comunicou, agora, o resultado da sua pesquisa.

A
Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação (br) divulga um artigo publicado no “Diário da Tarde” (MG), edição de 03/02/16, sob o título de EUA e a Amazónia, que corresponde ao texto que Luís Aleixo nos enviou.

Noutra
página, o próprio Ministro confirma a autoria, esclarece que “Vem sendo distribuído pela internet por diversas pessoas, o que me surpreende agradavelmente, o artigo "A Internacionalização do Mundo". O fato que deu origem a este artigo ocorreu em Nova York, nas salas de convenções do Hotel Hilton, durante o encontro do State of the World Forum, em Setembro de 2000. Publiquei o artigo no Globo e no Correio Braziliense, logo depois. Mas de vez em quando surgem mudanças e informações adicionais nem sempre verdadeiras.” e faculta uma cópia do artigo (desta vez) intitulado A Internacionalização do Mundo".

Optámos por divulgar esta versão – mantendo o texto original.

A Internacionalização do Mundo

por Cristovam Buarque

Durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

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