2008-10-31

Mais uma noite de Halloween...


Mesmo que o leitor ainda não tenha em casa um portátil de nome Magalhães, para aceder a sítios onde se evoca a Noite de Halloween, não deixe esta noite de exorcisar os fantasmas que povoam o País das Maravilhas

…………………
Ilustração: Animação recolhida em BeMine.com

Nesting: como criar um ambiente saudável para o bebé


No passado dia 20 (08/10/20), em Madrid, enquanto decorria o Simpósio Internacional da OMS sobre Meio Ambiente e Saúde, foi apresentado publicamente a versão em espanhol do Portal Nesting: como criar um ambiente saudável para o bebé, um projecto da WECF, Women in Europe for a Common Future (Mulheres na Europa por um Futuro Comum).

A WECF é uma rede internacional de organizações cuja acção é orientada para a mulher no domínio da saúde, do ambiente e da erradicação da pobreza. E o Nesting, como anuncia o Boletim de Outubro de Ecologia y Desarrollo, é “uma ferramenta online para informar e orientar sobre como proporcionar um ambiente mais saudável para as crianças recém-nascidas”.

Um projecto meritório.

… Até antes de lavar as mãos


A saúde e a qualidade de vida das pessoas e das populações estão associadas. Em linguagem simples, para todos nós nos entendermos, se sem saúde não há qualidade de vida, sem qualidade de vida também não há saúde.

Eu invoquei esta relação na minha primeira intervenção pública, enquanto profissional de saúde, em meados da década de 80. E lembro-a agora, no decurso de mais uma crise económica global, com consequências sociais ainda imprevisíveis, para lamentar a atitude de economistas e empresários, e, sobretudo, da líder do PSD, que de forma diversa e socialmente obscena contestaram a proposta do governo socialista de no próximo ano (2009) aumentar para 450 euros mensais o salário mínimo.

Se em Portugal o limiar da probreza se situa próximo dos € 400 e cerca de 1/5 da população (dois milhões de pessoas) é pobre, com empresários e políticos a pensarem em gerir a pobreza em vez de a intentarem erradicar, é óbvio que dificilmente se assegurará um nível de qualidade de vida favorável à saúde. Até parece que apostam numa população doente para depois investirem na prestação de cuidados paliativos. Comparticipados pelo estado, isto é, suportados pelos impostos cobrados à população doente.

Enquanto nós, profissionais de saúde pública, aparentemente alienados pelas directivas uniaoeuropeístas, continuamos a preocupar-nos com comportamentos tão significativos como saber se as pessoas lavam as mãos antes de comer…

…………………………..
Ilustração: Fotografia recolhida em Yesalel

2008-10-24

“Cuidados de Saúde Primários: agora mais do que nunca”


O Relatório da OMS, Organização Mundial da Saúde, sobre a saúde no mundo em 2008, apresentado na semana passada (08/10/14) em Alma Ata, no Casaquistão, “avalia de maneira crítica o modo como os cuidados de saúde são organizados, financiados e prestados nos países ricos e nos países pobres” e preconiza o regresso aos cuidados de saúde primários, o desafio global lançado oficialmente há 30 anos. “À luz das tendências actuais, os cuidados de saúde primários são o meio mais indicado para se repor o desenvolvimento sanitário”, afirmou (em tradução livre) Margaret Chan, Directora Geral da OMS, durante a sessão - também comemorativa do trigésimo aniversário da Declaração de Alma Ata.

Naquele documento, coloca-se “Portugal entre os países do mundo mais eficazes na redução da mortalidade” e salienta-se:

“- Em trinta anos, Portugal reduziu a mortalidade infantil em mais de 90%;
- A esperança de vida aumentou mais de nove anos desde 1978, passando para 79 anos;
- Os cuidados de saúde são universais, completos e gratuitos;
- Os centros de saúde, com médicos de família e enfermeiros, cobrem a totalidade do país
”.

Como sugere o título do Relatório, perante os novos desafios do mundo em transformação, agora “Os cuidados de saúde primários são mais precisos do que nunca”…

“Que Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, no inicio do novo século?”


Que Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, no inicio do novo século?” é a questão que mobilizará os participantes do Encontro de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho que hoje começa no Hotel Tivoli Almansor, em Carvoeiro.

Promovido pela ARSA, Administração Regional de Saúde do Algarve, o Programa do Encontro propõe para debate temas diversos e oportunos como “Dependências e Trabalho - a mala da prevenção”, “Qualidade e Certificação em SHST”, “Sida e Hepatites em Meio Laboral”.

Como se salienta no sítio da ARSA, pretende-se “mostrar aos parceiros públicos e privados o que se pode fazer para melhorar os resultados no campo da Prevenção de Riscos Profissionais e da Promoção da Saúde no Local de Trabalho”.

2008-10-19

Alterações Climáticas e Saúde Pública


Foi pelo sítio da SESA, Sociedad Espãnola de Sanidad Ambiental, que tomámos conhecimento da edição pela OMS, Organização Mundial da Saúde, da “Agenda de Trabalho sobre as Alterações Climáticas e a Saúde Pública”.

Apesar da língua portuguesa ser a sexta mais falada no mundo, o texto daquele documento (ainda?) só está disponível em inglês. Mas, em francês (entre as seis línguas em que foi divulgado), acedemos aos tópicos sobre “As actividades da OMS sobre as alterações climáticas e a Saúde” (tópicos que divulgamos, em tradução livre):

Liderança e Promoção
- Estratégia da OMS relativamente à protecção da saúde face às alterações climáticas.
- Papel da OMS na resposta das Nações Unidas face às alterações climáticas.

Promoção de um desenvolvimento saudável
- Promoção da protecção da saúde pública face às alterações climáticas.

Reforço dos sistemas de saúde
- Comissões regionais para a saúde e as alterações climáticas
- Fundo Mundial para o Ambiente (FPM): projecto experimental para a protecção da saúde e a adaptação às alterações climáticas.

Estabelecimento de parcerias

Dados estatísticos e informações necessárias para a acção

Vigilância e avaliação

Aos leitores do JSA mais distraídos, lembramos que o Dia Mundial da Saúde do ano em curso, ano que se aproxima do final, teve como lema “A protecção da Saúde contra os efeitos das alterações climáticas”.

2008-10-17

Uma Carta de Azeites. E outra de Vinagres?


Na edição de hoje (08/10/17, página 8) do Público, um título telegráfico desperta-nos a atenção: - “Cartas de Azeites substituem galheteiros invioláveis”. E na notícia lemos que “O ministro da Agricultura, Jaime Silva, anunciou (…) o fim dos galheteiros com garrafa inviolável a partir do momento em que os restaurantes passem a dispor de cartas de azeites que permitam ao consumidor escolher qual quer consumir”.

Nós sabemos que a ARESP sempre contestou, desde a data da publicação, a Portaria Nº 24/2005, de 05/01/11 que estabeleceu a obrigatoriedade do uso de galheteiros invioláveis. E nós também sempre discordámos dos seus argumentos, de carácter sobretudo economicista.

Agora, porém, parece que a ARESP terá concordado com a proposta ministerial, cuja implementação terá custos acrescidos para os empresários do sector de restauração e discutíveis benefícios para os consumidores.

Por um lado, duvidamos que a generalidade dos empresários da área da restauração, sobretudo do segmento médio e baixo, estejam disponíveis para investir na aquisição de azeites com características diferenciadas – basicamente: acidez, sabor e aroma – e que haja muitos consumidores minimamente interessados em seleccionar o azeite pela denominação de origem, para não questionarmos as suas aptências para não duvidarem da qualidade do azeite que lhes será servido em confronto com as características assinaladas na Carta.

Por outro lado, se a decisão do Ministro da Agricultura apenas se justifica porque as “garrafas invioláveis não identificam a origem do azeite”, parece-nos que a melhor solução consistiria em converter em obrigatoriedade a inclusão no rótulo dessa indicação e também das outras informações que distinguem os azeites.

A confirmar-se a adopção da proposta agora apresentada, dar-se-á um passo em frente e dois atrás: serão satisfeitas as reivindicações de alguns sectores económicos e, no domínio da segurança alimentar, os consumidores ficarão mais vulneráveis. Mas é previsível que aumentem significativamente as acções inspectivas, as análises laboratoriais e o volume de receitas através da penalização das infracções…

Para finalizarmos, uma brevíssima nota: o galheteiro tradicional inclui uma garafa de azeite e outra de vinagre. Entendemos que para o vinagre – que para o consumidor se distingue basicamente pelas mesmas características físicas e químicas – se devem adoptar os mesmos critérios e criar-se, também, uma “Carta de Vinagres”…

………………………………
Ilustração: Imagem recolhida em AgroPortal

2008-10-14

Cine’Eco 2008: Bom Cinema e Bom Ambiente


Com um concerto de Rodrigo Leão & Cinema Ensemble, em Seia, no Cine-Teatro Casa Municipal da Cultura, pelas 21.45 horas, começa no próximo sábado (08/10/18) a XIV Edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela.

Os filmes seleccionados (entre mais de 500 apresentados pelos concorrentes) serão exibidos ao longo da semana no Auditório do CISE – Centro de Interpretação da Serra da Estrela. Paralelamente, o festival integrará diferentes ciclos de cinema que decerto mobilizarão os cinéfilos: - “Outras terras, Outras Gentes” e “Paixão do Cinema” – um ciclo de homenagem ao actor Paul Newman e aos realizadores Sydney Pollack e Dino Risi...

Escreve Lauro António, director técnico do festival, em Cine’Eco 2008 – 14 anos depois: Bom Cinema e Bom Ambiente:

Um Festival de Cinema cuja temática é o ambiente deverá orientar o seu olhar preferencialmente para os problemas com que se debate a Terra no presente, ao nível do ambiente, procurando:

A) Mostrar o que de melhor se faz em todo o mundo no campo do cinema e do audiovisual de temática ambiental;

B) Diversificar os olhares, quer quanto à temática, quer quanto à sua origem geográfica. Obras abordando problemas diferenciados e de diversos países dos cinco continentes;

C) Estimular a criação de obras audiovisuais de teor ambientalista, quer nacionais, quer internacionais;

D) Chamar a atenção e promover obras que de outro modo não teriam o mesmo impacto junto do público, da crítica e dos organismos decisórios;

E) Promover a discussão e o diálogo entre ambientalistas e cineastas, através do convívio em Júris, em Encontros, Debates, etc.;

O Cine Eco tem dado o seu melhor para concretizar estes princípios. Ao anunciar a edição de 2008, reafirma estes princípios, impondo-lhes uma nova energia e revitalização.


… Parece-nos dispensável lembrar aos leitores do JSA que vão até lá, a Seia, na encosta norte da Serra da Estrela. De 18 a 25 de Outubro, uma cidade com “Bom Ambiente e Bom Cinema”.
…………………….

NC: - Por motivos vários, muito discutíveis, não me surpreende a ausência. Mas parece-me que é tempo da ARSC, Administração Regional de Saúde do Centro, se aliar à entidade organizadora e de apoiar o Cine’Eco. Incentivando os profissionais de saúde ambiental e de saúde pública. Para participarem, activamente. Até com a realização de um Colóquio ou de um Seminário sobre as relações entre o meio ambiente e a saúde.

Sebastião Alba


Há uns anos, pela manhã, em Braga, diz-se que depois de na estação se despedir de um amigo que partia de combóio, foi atropelado na autoestrada que atravessa a cidade como se fosse uma avenida. O corpo caído no asfalto terá obrigado à presença do Delegado de Saúde e do Delegado do Ministério Público, de polícias e de bombeiros e foi, depois, removido para a morgue. Onde somente dois ou três dias mais tarde foi identificado.

Era o Diniz.

O automobilista que o atropelou fugiu e não mais foi encontrado.

Passaram-se precisamente oito anos.

Enquanto beberrico uma aguardente velha, como no tempo em que bebíamos cerveja pelos bares da cidade do Rio dos Bons Sinais, folheio alguns dos apontamentos que me restam – “Os poetas moçambicanos são os mais antologiados do mundo”, disse-me – do projecto que ficou por aí, disperso, em caixas de cartão a que o pó e a humidade generosamente concederam o destino mais certo. Mas reencontrei a fotografia que publico e o poema – que na edição de “O Ritmo do Presságio”, para a colecção “O Som e o Sentido”, da Académica, Lda. (Lourenço Marques, 1974) - o Sebastião Alba dedicou ao Rui Knopfli (página 115, a última):

Como os outros

Como os outros discípulo da noite
frente ao seu quadro negro
que é exterior à música
dispo o reflexo. Sou um
e baço

dou-me as mãos na estreita
passagem dos dias
pelo café da cidade adoptiva
os passos discordando
mesmo entre si

As coisas são a sua morada
e há entre mim e mim um escuro limbo
mas é nessa disjunção o istmo da poesia
com suas grutas sinfónicas
no mar.

2008-10-13

"É preciso melhorar o ambiente"


85/06/27, jornal “A Capital”.

O suplemento “Guia do Consumidor”, coordenado por Afonso Cautela, jornalista, um dos precursores do movimento ecologista em Portugal, publicou o artigo (cujos títulos e subtítulos são da sua responsabilidade) “Para proteger a Saúde, é preciso melhorar o ambiente” que reproduz a comunicação “Ecologia e Saúde” que eu apresentara anteriormente (1984) nas III Jornadas de Saúde de Aveiro.

Passaram-se mais de duas dezenas de anos. No entanto...
…………………………

Nota: Afonso Cautela é o autor do texto introdutório (o primeiro parágrafo).
.................................
NC: Para a leitura da “Comunicação”, os leitores interessados deverão clicar sobre o recorte de jornal que “escaneámos” – em português do Brasil (ainda), antes da efectividade do acordo ortográfico.

2008-10-12

Uma oliveira para cada bebé


Hoje, domingo (08/10/12), terão sido oferecidas as primeiras árvores “de todos os bebés que nasceram na maternidade do Hospital Pêro da Covilhã” desde 20 de Outubro do ano passado. Quando, no decurso da “Semana do Bebé”, foi anunciado o projecto “Uma árvore, uma vida”.

Lemos no suplemento (especial) Saúde Infantil, do Jornal do Fundão (edição de 08/10/09), que o “gesto simbólico (…) acima de tudo afectivo” da doação das árvores “pretende promover os laços entre a comunidade e o hospital ao mesmo tempo que incentiva à inversão dos baixos índices de natalidade do país e alerta para as questões de saúde infantil”.

O acto da doação, que consiste “na oferta de uma oliveira envasada, na qual consta uma placa identificativa de cada bebé”, encerra a edição de 2008 da “Semana do Bebé”.

2008-10-11

Alves Redol – Prémio Literário


Alves Redol andou por alí, pelo concelho de Salvaterra de Magos. E escreveu um livro – a que chamou “ensaio” - que é uma referência também no domínio da etnografia: - “Glória, uma Aldeia do Ribatejo”.

Escritor neo-realista, autor de romances que pretendeu que fossem entendidos sobretudo como documentos vividos de denúncia das condições sociais dos trabalhadores dos campos ribatejanos, Alves Redol, nascido em Vila Franca de Xira, é anualmente homenageado pela pela Câmara Municipal da sua terra natal com um Concurso Literário - nas modalidades de Conto e Romance - cuja edição de 2009 foi agora anunciada.

Porque (como escrevemos anteriormente) “Há mais vida para além da Saúde Ambiental”, divulgamos o Regulamento para que os leitores do JSA possam participar. E lembramos: os trabalhos poderão ser entregues até 30 de Março de 2009
.

2008-10-08

Segurança alimentar: da norma ao facto


Todos nós sabemos que nos estabelecimentos de produtos alimentares, ao longo de toda a cadeia desde o produtor ao consumidor, para se garantir a qualidade e a inocuidade dos produtos e finalmente se proteger a saúde das pessoas, se deve cumprir um conjunto de regras, normas e procedimentos, que são abrangidos pela aplicação do HACCP, Sistema de Análise de Riscos e Controlo de Pontos Críticos, no âmbito da Segurança Alimentar. Aliás, eventualmente para que nós não nos esqueçamos, em alguns Estabelecimentos de Restauração e Bebidas até está afixado na porta (ou junto da porta), em local facilmente visível, um painel com a indicação de “Neste estabelecimento cumpre-se o HACCP”.

No entanto, eu não sei qual é o tipo de informação e de formação que é facultada aos empresários e aos trabalhadores desses estabelecimentos. Sei que é vendido muito papel, para consulta – arquivado em dossiers volumosos – e para afixar no equipamento de frio e/ou nas paredes, da sala, da cozinha e até das Instalações Sanitárias. E sei, também, por experiência pessoal – decorrente do exercício da profissão de TSA –, que muitos daqueles profissionais pouco sabem sobre Higiene Pessoal. Logo, concluo, pouco saberão sobre Segurança Alimentar.

Dois exemplos – fora do concelho onde trabalho, e, portanto, em concelhos onde só poderia intervir como consumidor, recorrendo ao “Livro de Reclamações”. O que não fiz, esclareço.

Em Santarém

Hoje, terça-feira (08/10/07), quando saí do Laboratório de Saúde Pública chovia torrencialmente. Tinha previsto um almoço de trabalho (para evitar uma reunião formal) com duas colegas que, por motivos pessoais, não puderam comparecer. No restaurante que tinha proposto para nos encontrarmos, almocei na sala para fumadores. Já depois das 14.30 horas, enquanto tomava café, reparei que a cozinheira, jovem, se sentara à mesa da (aparentemente) proprietária. Para conversar e fumar um cigarro. Um direito que lhe assiste. Mas, parece-me, podia ter evitado vir para a sala (devidamente vestida para trabalhar na cozinha) de luvas… descartáveis, que manteve enquanto conversava e fumava destressantemente…

No Cartaxo

Na semana que passou. Como habitualmente, as vistorias em conjunto com outras entidades acabaram tarde. Quando cheguei ao restaurante onde habitualmente almoço seriam talvez 14.00 horas. O almoço foi razoável. Trata-se de um estabelecimento que numa visita anterior me surpreendera positivamente. Então, cerca das 15.00 horas, ao proceder ao pagamento da despesa através do terminal de Multibanco - no balcão, logo após a entrada - reparei que a cozinha estava limpa. Toda a loiça usada para a confecção das refeições e o empratamento fora lavada e estaria arrumada. A cozinha estava pronta para mais uma sessão de trabalho. Transmiti esta informação a muita gente, como exemplo a seguir na gestão de um restaurante que se propõe observar com rigor a implementação do HACCP.

Todavia, na semana que passou, pela mesma hora mas desta vez no Parque de Estacionamento. Sentado no carro, fumo um cigarro (provavelmente também para destressar) e oiço a Antena 2. Pouco tempo depois reparo numa senhora vestida de branco, de bata e avental, com um gorro a cobrir-lhe a cabeça, que se aproxima. Com um cão, grande, pachorrento, decerto com muitos anos, de cor castanha, com malhas brancas. A cena seria decerto comovente para muita gente, sobretudo para as crianças. Para mim, confesso-o, a cena ser-me-ia indiferente se a senhora não fosse a (uma das) cozinheira (s) do restaurante. E não despira sequer a luva da mão direita - a única que muitos cozinheiros vestem, talvez por razões económicas - com que afagava o cão...

Á guisa de conclusão: há quem venda (muito) papel, há quem verifique se os estabelecimentos cumprem o HACCP, mas aparentemente não há quem consciencialize e responsabilize os profissionais da área da restauração sobre o que é de facto a segurança alimentar.

……………………………..
Ilustração: Imagem recolhida em Colégio de São Gonçalo.

2008-10-07

Água e Sustentabilidade: CARTA DE ZARAGOZA 2008


Distribuida pela Tribuna del Agua, recebemos por correio electrónico a Carta de Zaragoza 2008 que sintetiza as conclusões das actividades desenvolvidas ao longo da Exposição Internacional de 2008 que teve como tema "Água e Desenvolvimento Sustentável".

Depois de reconhecerem, no Preâmbulo, que “a água é essencial para a vida no planeta”, os participantes da Tribuna del Agua alertam que (tradução livre) “os novos paradigmas sobre água e sustentabilidade pretendem superar a visão meramente antropocêntrica por se entender que mediante uma gestão integrada dos recursos hídricos se protegem ao mesmo tempo a sobrevivência do ser humano e do planeta”.

A seguir, após a exposição dos pressupostos, apresentam um conjunto de Recomendações que, como assinalam no final, consubstanciam a Carta de Saragoça que será apresentada à Secretaria Geral da ONU, Organização das Nações Unidas, para que seja objecto de promoção universal.

2008-10-06

A Saúde na Europa


Foi agora distribuida a segunda edição (de 2008) do Atlas da Saúde na Europa (“Atlas of health in Europe”) que actualiza os dados de saúde na Europa.

Aos leitores interessados em consultar aquela publicação, observamos que o texto integral só está disponível em inglês.

Decerto que se trata de um pormenor pouco significativo para a generalidade dos leitores do JSA porque, como disse recentemente (Antena 2) o germanófilo (sem ofensa) Ministro da Cultura, bastam 800 palavras para se comunicar na lingua de Shakespeare.

Medicina Sanitária. Programa do Curso de 1904.


Passaram-se 102 anos desde a edição – pela Imprensa Nacional - do Número 4 do Boletim dos Serviços Sanitários do Reino relativo ao ano de 1904. No Boletim, como consta do Summario anunciado na capa, são publicados diferentes documentos distribuidos por três grupos: - “I – Leis, documentos, portarias, acoordãos e editaes, publicados de 2 de Janeiro a 31 de dezembro de 1904; II – Movimento do pessoal; III – Inficionamento de portos”.

Trata-se de uma publicação que como dezenas de outras fazem parte da Biblioteca do Centro de Saúde de Salvaterra de Magos. Uma biblioteca que durante alguns anos ajudei a instalar e que hoje é um projecto aparentemente abandonado. Os livros e os cadernos, muitos manuscritos e outros ofícios acumulam-se em grades ou no chão porque os armários e as estantes foram precisos decerto para outras utilizações mais prementes.

Do documento que hoje seleccionei para divulgar no JSA, transcrevo (quase totalmente, mas prometo digitalizá-lo, consoante o meu tempo disponível, em casa) o Edital de 7 de março de 1904Sobre o programma das disciplinas, pessoal docente e horario dos cursos do Instituto Central de Hygiene”. Trata-se de um documento que merece uma leitura atenta e (decerto) de uma reflexão demorada.

Inspecção Geral dos Serviços Sanitarios do Reino

Ricardo Jorge, inspector geral dos serviços sanitarios do reino, lente de hygiene da Escola Medico-Cirurgica de Lisboa, e Director do Instituto Central de Hygiene.

Em cumprimento do artigo 123.º do regulmento geral de saude publica de 24 de dezembro de 1901, faço saber que os cursos do Instituto Central de Hygiene começam a 14 de março e terminam a 16 de julho do corrente anno, sendo professados em todos os dias uteis, afora os feriados legaes e a semana de 27 de março a 3 de abril.

O programma das disciplinas, o pessoal docente e o horario dos cursos, constam do quadro seguinte:

Curso de medicina sanitaria

1.º

Direito sanitario. Legislação e administração sanitarias. Exposição e commentarios das leis e regulamentos sanitarios em Portugal; organização, pessoal e attribuições dos serviços de saude publica. – Professor Ricardo Jorge, inspector geral dos serviços sanitarios.

2.º

Demographia e estatistica sanitaria. Methodos, processos e leis fundamentaes da estatistica. Demographia portuguesa. Casamentos, nascimentos e óbitos. Morbilidade e mortalidade. Causas de morte. Estatistica obituaria. – João Henriques Schindler, medico adjunto da Inspecção Geral dos Serviços Sanitarios do Reino.

3.º

Meteorologia e clima. Temperatura, pressão e humidade do ar; ventos. Technica meteorologica. Composição e viciação do ar. Climatologia portuguesa.

Hydrographia. Aguas potaveis. Pureza e inquinação das aguas. Requisitos de potabilidade e abastecimento. Purificação das aguas;

Solo, Orographia, Tellurologia. – Conselheiro professor José Joaquim da Silva Amado, medico addido do Instituto Central de Hygiene.

4.º

Chimica sanitaria. Analyses do ar e das aguas. Exame physico, chimico, microscopico e bacteriologico das aguas potaveis. Generos alimenticios; suas alterações e falsificações. Exame e analyse physica, chimica e bacterioscopica dos principais generos alimenticios. – João Maria Holtreman do Rego, chimico-chefe do Laboratorio de Hygiene.

5.º

Carnes, matadouros e açougues: leite, vacarias. Molestias contagiosas dos animaes trasmissiveis ao homem. – Miguel Augusto Reis Martins, medico veterinario do Real Instituto Bacterologico Camara Pestana.

6.º

a) Epidemiologia geral. Estudo, inquerito, estatistica combate de epidemias. – Professor Ricardo Jorge, Inspector Geral dos Serviços Sanitarios.
b) Prophylaxia contra a tuberculose, a febre typhoide, a variola, o sezonismo, a raiva, etc. – Carlos França, medico auxiliar do Real Instituto Bacteriologico Camara pestana.
c) Molestias aymoticas. Diagnostico bacteriologico. Technica bacteriologica. Bacteriologia sanitaria. Imunização; soros e vacinas. – José Evaristo de Moraes Sarmento, medico assistente do Real Instituto Bacteriologico Camara Pestana.

7.º

Desinfecção e desinfectantes. Postos e serviços de desinfecção publica. Isolamentos. Defesa da fronteira terrestre. – Conselheiro Guilherme José Ennes, director do Posto de Desinfecção Publica de Lisboa.

8.º

Hygiene industrial. O trabalho e a saude dos operarios. O trabalho das mulheres e menores. A insalubridade industrial. Estabelecimentos insalubres, incommodos e perigosos. – Conselheiro e professor Sabino Maria Teixeira Coelho, medico addido do Instituto Central de Hygiene.



Pratica sanitaria official. – Benjamim Maria Barreiros Arrobas, medico adjunto da Delegação de Saude de Lisboa.

10.º

Sanidade marítima. Revisões, quarentenas e lazaretos. Hygiene naval e hygiene dos portos de mar. Peste, cholera e febre amarella. – José Vitorino de Freitas, medico do Lazareto de Lisboa.

11.º

A assistencia das classes pobres. Hygiene da infancia. Protecção sanitaria das crianças. Hospitaes e hygiene hospitalar. Hygiene escolar. – Professor Miguel Bombarda, medico addido do Instituto Central de hygiene.

12.º

Abastecimento de aguas. Saneamento; esgotos; drainagem domestica e publica. Hygiene habitacional. Salubridade das habitações. Limpeza domiciliaria e limpeza varia. – Conde de S. Lourenço, engenheiro adjunto da Inspecção Geral dos Serviços Sanitarios do Reino.

(…) (*)

Inspecção Geral dos Serviços Sanitarios do Reino, 7 de março de 10904. – O Director, Ricardo Jorge.


………………….

(*) Segue-se o Horario, que, por dificuldades técnicas, optámos por não publicar. No entanto, podemos facultá-lo aos leitores ineteressados que nos contactem (preferencialmente) por correio electrónico.

……………………
NC: Durante a transcrição, intentámos não alterar a ortografia original.

2008-10-05

Do ruído ao direito ao silêncio


Parafraseando a Alexandra Lucas Coelho, uma jovem jornalista fascinada pelo oriente, “eu sou do tempo em que os números de telefone tinham quatro algarismos” e aos autocarros nós chamávamos camionetas. A paragem era junto da fonte, no centro da aldeia, e na margem da ribeira que depois foi tapada (hoje provavelmente dir-se-ia “encanada”) para alargar a rua. Então, por lá, não havia táxis mas “carros de praça” e a praça mais próxima ficava em Gouveia (lembro-me do Sr. Lomba), mesmo ao lado da Igreja de S. Pedro, distante cerca de cinco quilómetros, por uma estrada de piso térreo, de Moimenta da Serra – talvez sem propósito: o número de telefone de casa dos meus pais era o 1605 -, onde cresci entre os oito e os doze anos de idade.

Num tempo em que na capela foi instalado um moderno relógio que não substituía os sinos mas marcava a passagem do tempo de quinze-em-quinze minutos com badaladas que se ouviam mesmo nas casas distantes. Um ruído que não agradou a todos, mesmo aos cristãos que não faltavam à missa dominical e que aparentemente cumpriam todos os preceitos da santa madre igreja. Todavia, prevaleceu a vontade do padre - o Padre João (Oliveira, mas não pertencia à minha família).

Quase 50 anos depois, num país que continua geograficamente cristão – na acepção de Bertrand Russell -, é raro ouvirmos o tocar dos sinos e o som dos relógios na torre das igrejas obedece à legislação do ruído para garantir a tranquilidade e o sossego a que as populações têm direito.

Populações e pessoas que são literalmente agredidas pela Muzak, o ruído que sob múltiplas formas nos atordoa nos mais diversos estabelecimentos. E agora também nos táxis, como escreve “A monte” a Alexandra Lucas Coelho na última das suas “Viagens com Bolso” (Ípsilon, Público, edição de 08/010/03). Para quem opta (ou não tem circunstancialmente outra alternativa) por este meio de transporte, não só tem de suportar a “rádio da central, móvel-chama-móvel-chama” e o som da telefonia sintonizada na estação do agrado do motorista mas também, desde o início do mês, “uma espécie de canal-táxi de televendas, flamejante”.

Para se proteger desta agressão, no regresso de Kandahar e depois de andar pelas margens do Rio Sabor, a Alexandra Lucas Coelho escreve que “já estou a tirar a carta”. Um bom pretexto para tomarmos a iniciativa de nos recusarmos a frequentar os locais onde não se respeita o direito dos cidadãos ao silêncio. Enquanto, num país em que tudo se regulamenta – até os bombeiros já calaram as sirenes -, não se disciplinar a Muzak.

……………………..
Ilustração: Imagem recolhida em APA, Agência Portuguesa do Ambiente

2008-10-02

Salvaterra de Magos: Programa de Saúde Escolar


A Saúde Escolar é o referencial do Sistema de Saúde para o processo de promoção e educação para a saúde na escola, promovendo o desenvolvimento de competências na comunidade educativa que lhe permita melhorar o seu nível de bem-estar físico, mental e social e contribuir para a sua qualidade de vida”, lemos no começo do Prefácio do Programa de Saúde Escolar 2008 – 2009, do Centro de Saúde de Salvaterra de Magos, que decidimos divulgar por entendermos tratar-se de um instrumento de trabalho útil sobretudo para os profissionais de Saúde Pública e da Educação.

O Programa integra as estratégias do Programa Nacional de Saúde Escolar, tem como alvo a população dos diferentes estabelecimentos escolares do concelho e estabelece como objectivos

- Promover a saúde e prevenir a doença na comunidade educativa;
- Promover um ambiente escolar seguro e saudável;
- Apoiar a inclusão de crianças com Necessidades de Saúde e Educativas Especiais;
- Reforçar os factores de protecção relacionados com os estilos de vida saudáveis;
- Contribuir para o desenvolvimento dos princípios da promoção de saúde nas escolas.

……………………….
Ilustração: Fotografia recolhida em Escola EB1 de Salvaterra de Magos

2008-10-01

Hoje, dia da água e da música, dia


No plano das celebrações, há dias para tudo. E há dias de tudo que já não servem para nada.

O primeiro dia do mês de Outubro, hoje, é uma data pretexto para as mais diversas celebrações: Dia do Idoso, Dia Mundial da Música, Dia Nacional da Água, Dia…

Nós entendemos que todos os dias são dias. Dias do Idoso, da Música e da Água, Dias de todos nós. Dias em que nos celebramos, jovens ou idosos, com a água que nos propomos proteger porque é vital e com a música que não sendo vital é um elemento essencial para sobrevivermos.

E porque nos celebramos diariamente, oiçamos um curso de água que nos invade pela eternidade…

…………………………………………
NC: Bachianas Brasileiras Nº. 5, de Heitor Villa-Lobos

........................
Ilustração: Imagem recolhida em Sabor a canela